
Obrigado Mark Zuckerberg, hoje me liberei das minhas cadeias!

Hoje de manhã, comentava um post interessante no LinkedIn de um prospecto. Embora claramente escrito pela IA, ele entregava conteúdo relevante sobre como ter melhor comunicação.
Junto a ele, tinha uma imagem de um bloco de madeira sobre um abismo com um interlocutor a cada lado, passando a ideia de que a comunicação é uma ponte. Eu comentei: “Está correta a imagem. Etimologicamente “comunicação” é a ação de pôr em comum. Nesse sentido gostei da imagem da ponte, na qual cada interlocutor é responsável por colocar em comum a sua parte, o seu pilar da ponte.”
Fiz isso, e sob recomendação do meu amigo Alexandre Bastos, desinstalei os app do Facebook e do Instagram do meu celular. Me senti melhor. Tem um minuto? Te explico o porquê.
De Vincent Parachini, socio diretor da Halifax Consulting Brasil
Se comunicar é pôr em comum, por que se escuta tão pouco hoje em dia?
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou que vai mudar as políticas de conteúdo das suas plataformas que hoje contam com moderação de conteúdo (Instagram, Facebook e Threads), juntamente com o fim do uso da checagem de fatos em publicações.
Vivemos em uma era onde a comunicação reativa e polarizada domina o cenário público e privado. As plataformas digitais moldaram a maneira como nos conectamos e consumimos informações.
E o ponto é esse mesmo: passamos de comunicarmos a consumir informações, tendo a impressão de nos estar comunicando.
Embora ofereçam benefícios inegáveis, essas plataformas também alimentam fenômenos que perturbam fortemente uma comunicação objetiva.
Conheça a origem do mal ou como as Redes Sociais exploram a fisiologia humana
Nossa comunicação é profundamente influenciada por nosso sistema nervoso e nossos instintos básicos. O cérebro humano é dividido, simplificadamente, em três grandes áreas: o cérebro reptiliano, responsável por reações automáticas e de sobrevivência; o sistema límbico, onde as emoções predominam; e o neocórtex, responsável pelo pensamento racional e linguagem.
Quando nos comunicamos, nosso sistema límbico muitas vezes reage antes que o neocórtex possa processar a informação, e a nossa percepção é moldada por atalhos mentais — os chamados vieses cognitivos.
Os algoritmos dessas plataformas são projetados para maximizar o engajamento. Eles priorizam conteúdos que geram emoções intensas — especialmente raiva, indignação e medo. A lógica é simples: quanto mais tempo passamos interagindo, mais dados fornecemos, e maior é o lucro gerado. Mas o custo relacional é alto.
Por exemplo, um usuário que interage com uma postagem polarizadora recebe MAIS conteúdos semelhantes, criando um ciclo de reforço. Esse ciclo, chamado de “bolha de filtro”, agrava o viés de confirmação — a tendência de buscar e acreditar em informações que validem nossas opiniões pré-existentes, ignorando evidências contrárias. Logo, quanto mais exposições ao mesmo relato, mais “verdadeiro” ele nos parece.
Além disso, o viés de preferência também entra em jogo: priorizamos conteúdos que são mais fáceis de consumir ou que reforçam nosso senso de pertencimento. Assim, comunidades se tornam cada vez mais homogêneas, fechadas em “câmaras de eco” que dificultam o diálogo entre grupos diferentes.
Cultura confrontacional e “Abestamento”: o custo social
A combinação dessas dinâmicas cria um terreno fértil para a disseminação de fake news. Pesquisas mostram que informações falsas se espalham mais rápido do que as verdadeiras, pois frequentemente apelam para emoções intensas. Isso é agravado por nossa fisiologia, ativando viés de negatividade – a mente humana presta mais atenção a informações negativas, pois historicamente isso ajudava na sobrevivência – ao nos depararmos com conteúdos que evocam medo ou raiva, o sistema límbico ativa a resposta de luta ou fuga, diminuindo nossa capacidade de análise crítica.
O resultado? Um ambiente onde a comunicação deixa de ser um canal de conexão para se tornar uma arena de confronto. Vemos isso diariamente em comentários inflamados, grupos divididos e até no colapso de relacionamentos pessoais e profissionais.
Mas ao meu ver, tem um outro problema, muito mais grave: nada novo se cria no idêntico. Para aprender algo, você precisa estar aberto ao diferente e abraçar a confusão e a perplexidade nas quais te deixa o novo. Quanto mais exposto ao diferente, mais enriquecidas são as suas reflexões sobre as suas tarefas habituais permitindo que você faça novas conexões entre assuntos conhecidos. Isso se chama: Serendipidade.
A Serendipidade é a ocorrência de descobertas afortunadas e valiosas de maneira inesperada, geralmente enquanto busca-se por algo completamente diferente.
Passando tempo nas redes sociais não vai aprender nada novo, pois estão programadas para eliminar a possibilidade de serendipidade, conduzindo a um empobrecimento cognitivo, a um achatamento do mundo no qual vivemos.
A hegemonia da cultura reativa e opinativa ou a objeção insuperável: o custo comercial
Veja as suas faculdades racionais como um músculo, quanto mais são treinadas, mais perspicaz você se torna.
Em poucas palavras, as redes sociais reforçam as suas opiniões e preferências existentes, dessensibilizando, desabilitando, enfraquecendo o nosso senso crítico, a nossa capacidade de raciocínio, de libre arbitro e de duvidar do que vê, escuta e sente.
Se tudo se julga, se apoia, se decide em um clic, durante o furtivo momento de um Like, se ter uma opinião é mais valorado do que ter uma reflexão, nos tornamos refém dos nossos automatismos.
Se os nossos clientes normalizam isso nos seus processos de compra, já que, como pessoas, são membros das redes sociais antes de ter um cargo corporativo, eles são mais propícios a opinar sobre a sua proposta de valor antes mesmo de avaliá-la objetivamente.
Para nós, líderes comerciais isso é ter um demônio adicional a combater: uma objecção insuperável. Pois se não existir espaço para avaliar objetivamente na cabeça do cliente, não há maneira de superar as suas objeções.
Por que é relevante saber disso como líder (comercial)? – Aprendamos com a Ana
Vamos ilustrar com uma anedota. Ana, diretora comercial de uma grande empresa de tecnologia, participa de uma reunião estratégica com sua equipe. Durante a discussão, um membro da equipe questiona a viabilidade de uma estratégia proposta. Sentindo-se ameaçada, Ana interpreta o comentário como um ataque pessoal. Sem perceber, ela responde defensivamente, interrompendo o fluxo criativo da reunião e minando a confiança da equipe.
O que aconteceu aqui? Ana foi vítima do viés de negatividade e de sua resposta fisiológica instintiva. Sua escuta ficou comprometida, e a oportunidade de fomentar uma discussão produtiva foi perdida.
Para líderes (comerciais), a consciência desses mecanismos é vital. Se você está me lendo até aqui, não dá para duvidar da sua intenção de ser um líder benevolente e você deve se perguntar: “como saio disso?”
Quando conversamos a respeito e que a Ana, a minha coachee, tomou consciência do impacto dos seus vieses e da relevância de “retomar controle das suas decisões” dado o contexto atual. Então me pediu um livro “novo” para aprender sobre como dominar os seus impulsos. Se espantou com a minha resposta: “Conheça Péricles, leia Aristóteles e Platão”
O Velho ao serviço do Novo – Os 3 Crivos de Sócrates como guia de autocontrole
A História atribuiu a Sócrates a seguinte parábola: Os 3 crivos.
“Antes de falar, passe suas palavras por três crivos. O que estou por dizer:
- É verdade? (Objetivamente baseado em fatos)
- É bondoso? (Empaticamente compassivo com o outro e os seus desafios)
- É benéfico? (Funcionalmente serve para fazer progredir o nosso entendimento comum)
Encontro que os 3 crivos de Sócrates oferecem um framework prático para líderes que desejam liderar com intencionalidade e desenvolver uma deliberada escuta e resposta conscientes. Funciona para você refletir e cultivar uma resposta racional às injunções da vida. Mas também pode ser uma guia para cultivar essa capacidade nos outros.
Por exemplo.
- É verdadeiro?
Antes de reagir, desafie a validade da informação.- Exemplo: Um cliente reclama que o preço de um serviço está muito alto. Em vez de responder defensivamente, você pode perguntar: “Quais são os custos que você teria se não encontrar um serviço igual ao nosso?”
- É útil?
Avalie se a informação ou resposta contribui para o progresso da relação.- Exemplo: Em uma reunião de vendas, um colaborador critica a abordagem da equipe em uma apresentação interna, expressando dúvidas sobre as chances de sucesso do plano. Redirecione: “Que sugestões específicas você tem para melhorarmos isso?”
- É benéfico?
Reflita sobre o impacto emocional da resposta.- Exemplo: Um membro da equipe afirma que “ninguém entende a nova estratégia da empresa”. Engaje com: “Que exemplos ou feedback direto de clientes você pode compartilhar conosco que ilustram essa dificuldade?”
A Liderança Benevolente e a “Academia mental”: Um Antídoto à Polarização ambiente
Sempre acreditei que a liderança era um privilégio e uma responsabilidade. Sempre me convocou estar ao serviço dos outros. E só consegui realmente entender como fazê-lo quando percebi que tudo começa pela “Autoliderança”.
O endomarketing corporativo nos impõe muitas injunções, até as colocam nas paredes dos escritórios. São os famosos valores. Temos de ser “colaborativos, criativos, ter espírito de dono, desafiar o status-quo, etc.
Nada disso se torna uma realidade se não entendemos como funcionamos e como aprendemos. Ser um líder benevolente requer uma autovigilância constante. Requer horas e horas de “Academia mental”.
Você vai para Academia? Gosta de como fica o seu corpo? Da sensação de progresso à medida que consegue correr, pular, remar, nadar mais tempo? Entendo completamente. Eu aprendi a gostar. Odiava isso. Deixa-me te fazer uma pergunta: “E a sua mente, treina quantas horas por semana”?
O ponto essencial é que é preciso muito mais horas para treinar a sua mente a ter domínio crítico e racional dos seus impulsos do que o seu corpo ser capaz de correr 15 km.
“Bora pro treino então?”
Como você lida com informações conflitantes no seu dia a dia? Quanto tempo você toma antes de responder a uma opinião chamativa que choca com as suas crenças?
Quando é a última vez que você indagou para entender uma opinião diferente da sua, em vez de responder imediatamente?
E finalmente, quando você vai se libertar de verdade e desinstalar os Apps do Facebook e do Instagram?
Eu fiz hoje, graça ao meu amigo Alexandre e me sinto muito agradecido por isso.
Sobre o autor:
Como sócio-diretor da LATAM na Halifax Consulting, Vincent se dedica a impulsionar o crescimento estratégico e aprimorar a produtividade dos negócios na América Latina. Ex-CEO com mais de 15 anos de experiência na gestão de negócios internacionais na BIC, 25 anos em vendas e 8 em treinamento e consultoria, ele é apaixonado por ajudar empresas a alcançarem seus objetivos por meio de soluções personalizadas e insights práticos.
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